terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Análise do Comportamento - os níveis de seleção do comportamento

Agora que sabe-se mais sobre a Análise do Comportamento, é importante entender a forma como o comportamento humano é compreendido nessa ciência. São três os níveis de seleção do comportamento: filogenético, ontogenético e cultural.

  • Filogenético: são aqueles comportamentos com os quais nascemos, por exemplo, a resposta da pupila diante da luz. São estes os comportamentos reflexos. São selecionados ao longo da história evolutiva da espécie e todos os indivíduos pertencentes a ela os terão em seu repertório comportamental.
  • Ontogenético: são aqueles comportamentos adquiridos ao longo da vida do indivíduo, como cantar, falar, escrever. São os comportamentos operantes (operam no ambiente e produzem consequências). São selecionados ao longo da história de vida do indivíduo e cada pessoa possui repertório individual e diferente das demais.
  • Cultural: são aqueles comportamentos compartilhados com os grupos nos quais estamos inseridos, como festividades, costumes e crenças. São também comportamentos operantes mais a um nível mais complexo, pois envolvem mais de um indivíduo. São selecionados ao longo da história de vida do grupo e passados verbalmente de um indivíduo para o outro.

Sabendo disso, fica mais claro compreender o fenômeno da obesidade de acordo com essa abordagem. Entende-se a obesidade como produto desses três níveis. Um indivíduo pode ter predisposição à obesidade, como genética favorável. Ainda, ao longo de sua vida pode aprender padrões de comportamento que favoreçam essa condição, como padrão alimentar parental hipercalórico, não ser estimulado a praticar exercícios físicos ao longo da vida e etc. A nível cultural, é comum vermos comida envolvida em qualquer tipo de comemoração. A alimentação representa, em nossa cultura, muito mais do que necessidade nutricional para a sobrevivência. Comida é vista como fonte de prazer e deve estar presente em todos os momentos, ainda mais de comemoração.
A Análise do Comportamento é ampla o suficiente para compreender o fenômeno. Por isso, o psicólogo embasado por essa abordagem possui em sua atuação ferramentas as quais o auxiliam a entender as causas histórias e atuais da condição do indivíduo que sofre de obesidade e ainda entender a fundo o que mantém esse indivíduo nessa condição. Dessa forma, torna-se mais acessível estruturar intervenções de acordo com a individualidade de cada pessoa, e assim, aproximam-se mais da eficácia.

A Análise do Comportamento


A Análise do Comportamento é um campo da ciência que tem como uma de suas filosofias de base o Behaviorismo Radical de B. F. Skinner. Este autor, em seu doutoramento, estuda a teoria de John B. Watson e se interessa pela ciência do comportamento. Em seus estudos elabora o que viria a chamar de Behaviorismo Radical. Defende o comportamento ir além da relação estímulo-resposta - relação mecânica entre ambiente e organismo - como defendia Watson, trazendo para o mundo científico o conceito de comportamento operante, ou a tríplice contingência - estímulo (contexto): resposta (comportamento) -> consequência (o que mantém ou suprime essa resposta), diferenciando-o do comportamento respondente (estímulo - responsta) de Watson. Considera o objetivo de estudo de Watson impraticável e limitado, dispensando o dualismo mente e corpo e adota o estudo de eventos encobertos (ou privados) por meio do relato verbal, tais como pensamentos e emoções. Skinner afirma serem estes da mesma natureza dos comportamentos públicos, visíveis a qualquer um, portanto, passíveis de estudo científico de acordo com uma ciência natural. A diferença entre tais eventos consiste somente na quantidade de pessoas que os observam, ou seja, na audiência. Seu critério de verdade é o pragmático, o qual adota a validade do evento a partir do contexto e do indivíduo, e não a partir do consenso como utilizava Watson, que defencia um evento ser passível de estudo científico quando duas ou mais pessoas podiam o relatar de forma semelhante. Assim, o Behaviorismo Radical estuda o organismo como um todo, enfatizando o comportamento como função de eventos ambientais, contudo, sem considerar a resposta em si própria, a topografia, considerando o comportamento a relação funcional entre o organismo e seu contexto. É uma filosofia monista*, materialista** (e não metafísica), determinista*** (e não pré-determinista), interacionista****, contextualista*****, externalista****** e selecionista*******.





*Filosofia que defende não existir a separação mente e corpo. O comportamento é também um fenômeno natural, ou seja, inteiro, assim como os fenômenos da natureza. O organismo se comporta por inteiro e não somente uma parte dele.

**Filosofia que defende todos os "tipos" de comportamento serem de natureza material, ou seja, não metafísica.

***Filosofia que defende o comportamento atual do indivíduo ser influenciado por eventos que ocorreram anteriormente em sua história de vida.

****Filosofia que defende o comportamento ser uma interação entre organismo e ambiente

*****Filosofia que defende o comportamento ser fruto do contexto no qual está inserido

******Filosofia que defende o comportamento ser função de elementos do contexto do indivíduo e não de aspectos internos a ele

*******Filosofia que defende o comportamento, semelhante à evolução das espécies de acordo com C. Darwin, ser selecionado pela interação com o ambiente. Os comportamentos mais bem sucedidos, que garantam a sobrevivência da espécie e do indivíduo, tendem a permanecer no repertório comportamental deste.


domingo, 29 de agosto de 2010

Lista de Livros

A seguir, algumas sugestões de livros com temática semelhante à tratada neste blog. São alguns dos muitos disponíveis atualmente acerca da obesidade.  As informações são as disponíveis via internet.

Título: Transtornos Alimentares e Obesidade - Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar
Autora: Maria Teresa Zanella;



Título: Alimento e Transformação
Autor: Jackson, E



Título: Transtornos Alimentares e Obesidade - 2ª edição
Autora: Maria Angélica Nunes



Título: Obesidade: Prevenindo e Controlando a Epidemia Global
Editora: Roca Editora



 Título: Atividade Física e Obesidade
Autor: Claude Bouchard
Editora: Manole Editora


Título: Decifrando a Obesidade – Conheça a causa e descubra o melhor tratamento
Autor: Dr. João Pinheiro
 

Título: Obesidade
Autor: Alfredo Halpern



Essa lista não esgota as opções disponíves de livros sobre o assunto.

Transtornos Alimentares e Obesidade: comentários sobre o livro


O livro organizado por Maria Angélica Nunes, José Carlos Appolinario, Ana Luiza Galvão e Walmir Coutinho contém 20 artigos sobre transtornos alimentares, como bulimia, anorexia e vigorexia,  e acerca de diagnóstico, manejo e tratamentos possíveis para esses transtornos. Sobre a obesidade, estão disponíveis outros 12 artigos que tratam da epidemiologia, etiologia, caracterização e tratamentos possíveis e atuais para essa condição. Inclui tratamento nutricional, físico, psicológico, farmacológico e cirúrgico (médico). No que diz respeito ao tratamento psicológico, em uma linguagem comum na área da psicologia da saúde, aborda, em sua maioria, o fenômeno de acordo com a abordagem cognitivo-comportamental. Essa abordagem utiliza a teoria cognitiva, com sua forma de compreender os fenômenos humanos, em união a técnicas comportamentais. Os artigos evidenciam a importância do tratamento multidisciplinar na eficácia das intervenções. Além disso, traz em anexo escalas, questionários e outros instrumentos psicológicos que podem auxiliar no diagnóstico de transtornos alimentares e de imagem corporal.

Indico o livro por tratar da obesidade de forma ampla, assim como deve ser qualquer intervenção que se pretenda eficaz. Literatura específica na área da Análise do Comportamento ainda é bastante escassa, já que há pouco seus teóricos e pesquisadores passaram a dedicar-se a conteúdos mais aplicados, considerando-se a recência da ciência analítico comportamental. Artigos são mais numerosos (ainda que poucos) do que livros e outras fontes de informação.

Referência:

Slide 1
Moreira, R. O.; Benchimol, A. K.: Princípios gerais do tratamento da obesidade. Em Transtornos Alimentares e Obesidade. 288-298. 3ª Ed. Artmed:  São Paulo.

Legislações





 Atualmente existem muitas leis e projetos de lei em favor dos indivíduos portadores de obesidade. Clicando aqui você terá acesso a vários deles, como:





  • Lei 3017/04 | Lei nº 3017 de 23 de dezembro de 2004 de Foz do Iguacu 

DESOBRIGA O CIDADÃO OBESO A TRANPOR A ROLETA DOS VEÍCULOS DO TRANSPORTE COLETIVO URBANO.  

  • Lei 4513/05 | Lei nº 4513 de 27 de julho de 2005 de São Luis 

CRIA NO MUNICIPIO DE SÃO LUIS, A SEMANA DE COMBATE Á OBESIDADE MORBIDA.  

  • Lei 5038/07 | Lei nº 5038, de 06 de junho de 2007 do Rio de janeiro

    OBRIGA HOSPITAIS, UNIDADES MÉDICAS DE ATENDIMENTO EMERGENCIAL E LABORATÓRIOS PRIVADOS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A DISPONIBILIZAREM EQUIPAMENTOS ADAPTADOS AO ATENDIMENTO DE OBESOS MÓRBIDOS/ GRAVES.

entre várias outras. A obesidade já é uma condição comum e que chama a atenção das autoridades políticas no Brasil. Desta forma, as leis tornam-se necessárias para garantir os direitos especiais que portadores de tal doença necessitam para garantir qualidade de vida e saúde.

Grupos de Apoio

A Análise do Comportamento mostra em seus estudos a importância, aqui já citada, do apoio social no tratamento da obesidade. A seguir, clicando em Grupos de Apoio você terá acesso uma página que contém diversos grupos de apoio ao portador de obesidade, com diversos objetivos e dinâmicas.

Ainda, no Rio de Janeiro existe uma ONG de apoio ao portador de obesidade:

Grupo de Resgate à Auto-estima e à Cidadania do Obeso
Av. Lusitânia, 27. Penha Circular - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: 21 -  2230-6403 / 2560-6901
Sra. Rosimeire Lima da Silva - Presidente

Igualmente, em Itabuna - BA existe a ONG Casa do Obeso que realiza reuniões mensais no auditório da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, com ações de prevenção e orientação sobre os riscos da obesidade mórbida.
 

Relato de Pesquisa 3

Behavioral Intervention for the Treatment of Obesity:  Strategies and effectiveness Data (Intervenção comportamental para tratamento da obesidade: estratégias e dados eficazes.
Levy, R. L., & Cols. (2007).

O artigo tem como objetivo evidenciar a eficácia das técnicas comportamentais no tratamento da obesidade como ferramenta adicional em intervenções gastroenterológicas. Escrito para profissionais da classe, defende o uso de tais técnicas em conjunto com a atuação costumeira para otimizar o tratamento de tal condição. Para tanto, apresenta as diversas técnicas comportamentais disponíveis na atualidade, não as esgotando. Estas são as já citadas no post sobre técnicas comportamentais. Os dados revelam a diversidade e eficácia de tais técnicas. Mostram sua aplicabilidade e objetivos, evidenciando a aplicabilidade de tais na atuação do médico enterologista.

O artigo cita de forma superficial as técnicas possíveis utilizadas no tratamento da obesidade. É interessante como levanta a eficácia e importancia de tais intervenções, porém não cita a necessidade de serem utilizadas por um profissional treinado, tal como o psicólogo analítico comportamental. Dessa forma, se utilizada de tal maneira, é esperada uma utilização superficial e ineficaz a longo prazo, já que somente cita a utilização sem que se ententa a fundo as análises necessárias para aplicar de forma eficaz tais técnicas.
Uma técnica utilizada de forma superficial seria, por exemplo, o reforçamento disponibilizado sem que antes se avalie quais aspectos na vida do indivíduo possuem função de reforço: um indivíduo que não gosta de falar em público ser chamado para falar diante de todos sobre seus ganhos ao longo do programa de emagrecimento. Sem a análise funcional, ferramenta de atuação do analista do comportamento com a qual ele busca os aspectos do contexto do indivíduo que possuem relação de dependência e previsibilidade com o comportamento da pessoa, a aplicação da técnica se torna superficial, inefetiva, a medida em que não considera as especificidades de cada indivíduo. Assim, torna-se clara a importância da utilização dessa ferramenta, já que por meio dela é possível entender as peculiaridades por trás do comportamento de cada pessoa. 

Referências:

Levy, R.L., Finch, E. A., Crowell, M. D., Talley, N. J., & Jeffery, R. W.(2007). Behavioral Intervention for the Treatment of Obesity: strategies and effectiveness data. American journal of Gastroenterology, 102, 2314-2321.

Relato de Pesquisa 2

Obesidade: realidades e indagações
Ades, L., & Kerbauy, R. R. (2002)

O estudo teve como objetivo fazer um levantamento da literatura disponível acerca dos tratamentos utilizados para a obesidade.  Para tanto, artigos sobre intervenções comportamentais, tratamentos fisiológicos e tratamentos multidisciplinares foram utilizados. Os resultados indicam que independente da abordagem utilizada para o tratamento da obesidade - reforçadores, atividade física, apoio social, ingestão e gasto calórico e procedimentos físicos - é necessário considerar a complexidade, a multifatorialidade e a individualidade da ocorrência dessa condição para cada indivíduo acometido por ela. De outra forma, tornam-se superficiais e, se utilizados isoladamente, ineficazes e insuficientes.

O estudo aponta diversas formas de tratamento da obesidade disponíveis atualmente. Levanta a questão da necessidade das áreas de conhecimento trabalharem em conjunto de forma a tornar as intervenções mais completas, complexas e capazes de lidar com o fenômeno. O estudo explicita a necessidade de se conhecer a fundo os reforçadores envolvidos no comportamento alimentar do indivíduo que sofre de obesidade, fator determinante para uma intervenção eficaz. A revisão litarária realizada mostra que as intervenções não realizadas desta forma tendem a ter curta eficácia. Esta indicação se aproxima da elaboração de análises funcionais as quais permitirão um tratamento não superficial e, provavelmente, pouco duradouro, independente de qual abordagem foi utilizada. Análises funcionais são práticas do analista do comportamento nas quais este busca aspectos do contexto do indivíduo que possuem relação de predição e dependência com o comportamento do indivíduo. Dessa forma, ele encontra padrões de comportamento, repetições, no repertório comportamental da pessoa. Exemplo seria perceber que toda vez que o indivíduo fica muito tempo sem comer ele se alimenta de maneira exagerada em quantidade sente um grande alívio da fome. Sabendo disso, a multidisciplinariedade aproxima-se mais do sucesso da intervenção por permitir essa análise aprofundada de todos os profissionais, inclusive do psicólogo.

Referência:


Ades, L., & Kerbauy, R. R. (2002). Obesidade: realidades e indagações. Psicologia USP, (13)1.

Relato de Pesquisa 1

Do behavioral treatments of obesity last? A five-year follow-up investigation. (Tratamentos comportamentais para a obesidade duram?  Uma investigação acompanhamento de cinco anos.)Stalonas, P. M., Perri, M. G., & Kerzner, A. B. (1984).
 
O estudo de Stalonas, Perri, e Kerzner (1984) foi realizado com objetivo de investigar a longevidade dos efeitos da intervenção comportamental nos tratamentos da obesidade e a aderência a longo prazo às estratégias ensinadas. Para tanto, um acompanhamento de cinco anos foi realizado. Trinta e seis dos 44 sujeitos participantes do programa comportamental de controle de peso, realizado em 10 semanas, foram entrevistados. Neste programa, quatro grupos foram formados: autocontrole, autocontrole+exercícios, autocontrole+controle de contingências, autocontrole+controle de contingências+exercícios. Ainda que todos os participantes de todos os grupos tenham perdido peso ao longo do programa, os resultados indicam que a maior parte destes recuperaram parte do peso perdido ao longo do tratamento. Ainda que a aderência as técnicas utilizadas no tratamento após este tenha sido baixa, duas se mantiveram após o término desse: comer sempre no mesmo lugar e não repetir o prato. Os sujeitos relataram que o ambiente de trabalho, a família, o cônjuge, o tédio, a raiva, problemas emocionais e a depressão era fortes concorrentes com a manutenção do peso.

Da forma como a intervenção é apresentada, o trabalho realizado ao longo do programa mostrou-se superficial, até mesmo por sua curta duração. A função dos diversos comportamentos envolvidos no tratamento, como alimentar-se em demasia, padrão alimentar hipercalório, pouco repertório de exercitar-se, não foi buscada, ou seja, somente os comportamentos-problema, ou comportamentos-alvo, foram foco da intervenção. A função diz respeito à aspectos do contexto do indivíduo os quais esse comportamento tem relação de dependência. Por exemplo, sempre que encontra com um determinado amigo, o indivíduo sai para comer em um rodízio e este amigo relata gostar muito de sair com ele. A função do comportamento de comer muito/sair para comer seria o prazer que o momento com o amigo o proporciona e o relato do mesmo por parte do amigo.  Dessa forma, se essa relação de dependência não é estudada e a intervenção não é elaborada de acordo com ela, é esperado que os repertórios anteriores à intervenção sejam recuperados já que esta se mostrou superficial e não de acordo com aquela relação estabelecida entre o comer e o amigo. O estudo não trabalhou de forma abrangente formas de lidar com situações cotidianas na vida dos participantes. No entanto, ensinou formas de lidar diretamente com a comida e exercícios físicos (alguns grupos), o que já é um grande ganho para quem precisa perder peso.

Referência:
Stalonas, P. M., Perri, M. G., & Kerzner, A. B. (1984). Do behavioral treatments of obesity last? A five-year follow-up investigation. Addictive Behaviors, 9, 175-183.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Técnicas Comportamentais

IMPORTANTE: É recomendável reler o post anterior acerca da utilização de técnicas comportamentais de forma isolada.

Técnicas Comportamentais no Tratamento da Obesidade

Os objetivos da intervenção psicológica de base Analítico Comportamental vão de encontro aos dos demais profissionais envolvidos: perda de peso. Isso envolve redução da ingestão calórica e aumento do gasto calórico.

As mais comuns são:
  • Auto monitoramento: Consiste em formas de manter o cliente em contato com suas práticas alimentares e físicas. É muito comum utilizar um registro, tal como um diário alimentar, onde todo o alimento ingerido, horário de ingestão e quantidade é registrado, assim como a prática de exercício físico.Dessa forma, torna-se mais visível para o cliente suas práticas alimentar e física.
  • Estabelecimento de metas: Estudos na área da Análise do Comportamento mostram que a modificação gradual do comportamento é mais eficaz do que mudanças abruptas, incompatíveis com o repertório comportamental disponível do indivíduo. O estabelecimento de metas envolve repartir o objetivo final em pequenos passos, de forma a levar o indivíduo a pequenos sucessos até que se alcance o sucesso final. A esse exemplo, ao invés de iniciar atividades físicas diárias após anos de sedentarismo, exercitar-se duas vezes por semana já seria uma grande conquista se comparado ao nível anterior.
  • Controle de estímulos: Visa modificações ambientais que facilitem a aquisição de novos repertórios que vão de encontro com a perda de peso. A exemplo disso, deixar de estocar alimentos hipercalóricos em casa seria uma estratégia. 
  • Suporte social: busca de pessoas com objetivos semelhantes. É muito comum que programas de intervenção tenham encontros grupais também. Dessa forma o indivíduo partilha seus objetivos, recebe apoio e reconhecimentos, de forma que o motiva a continuar. 
  • Reforçamento: Estudos mostram que comportamentos seguidos imediatamente de consequências reforçadoras (que aumentam a probabilidade de ocorrência dessa mesmsa resposta no futuro) tendem a repetir e aumentar em frequência no repertório do indivíduo. Dessa forma, o reforço social é muito importante para o alcance das metas estabelecidas para o emagrecimento. Reconhecimento, elogios são exemplos desse. Porém, ainda mais eficazes são os reforços naturais, intrínsecos ao próprio emagrecimento, práticas de exercício físico e redução da ingestão calórica. Seriam estes a própria perda de peso, redução de medidas, saúde e bem estar físico e emocional e etc.
 Essas técnicas possuem eficácia comprovada em estudos na área. São largamente utilizadas e quando aplicadas em conjunto com a atuação de outros profissionais de saúde envolvidos no tratamento da obesidade tem sua eficácia otimizada. É importante salientar que para que não o seja realizado de forma superficial, o psicólogo Analista do Comportamento precisa estar envolvido.

Intervenções Comportamentais no Tratamento da Obesidade

Em seus princípios, o tratamento da obesidade realizado por um Analista do Comportamento Clínico assemelha-se a qualquer outra de suas práticas. Em terapia, análises funcionais são realizadas em busca de eventos desencadeadores do comportamento de comer excessivamente e/ou pouca realização de exercícios físicos e os eventos consequentes que mantém tais comportamentos ou os suprime. De outra forma, se somente técnicas são utilizadas e a obesidade tratada como único foco, é bastante provável que o tratamento se torne superficial e de eficácia somente a curto prazo. A chamada "substituição de sintomas" se encaixaria em tal prática. Ensina-se ao indivíduo como alimentar-se bem e praticar exercícios por meio de técnicas comportamentais, porém não encontra-se e trabalha-se a função desse comer e desse não se exercitar. É preciso instalar novos repertórios de comportamento que vão de encontro com objetivos compatíveis com as práticas saudáveis de emagrecimento, sem perder de vista o indíviduo como um todo. De maneira análoga o faz o médico que trata da alergia cutânea sem buscar as causas para tal e possíveis modificações a serem feitas para que estas não mais culminem em uma alergia.


É preciso enxergar o indivíduo além de sua condição de obeso.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Como calcular o IMC?

O IMC, índice de massa corporal, é a medida mais utilizada atualmente para determinar peso ideal. Essa medida é calculada da seguinte forma:

Índice de massa corporal

Ainda que não diferencie massa gorda de massa magra do organismo do indivíduo, é
Apesar de não discriminar os componentes gordo e magro da massa corporal total, o IMC é o método mais utilizado para avaliação do grau de risco associado à obesidade, já que diversos estudos demonstram uma íntima relação entre IMC aumentado e risco de doenças.

O que significa o número correspondente ao seu IMC?

Até 18,4 kg/m2:
Peso abaixo do normal. 

18,5 a 24,9:
Peso considerado normal pela Organização Mundial de Saúde. Esta faixa vai de 18,5 a 24,9 de índice de massa corporal (IMC). Algumas pessoas, no entanto, já podem ter um maior risco de problemas metabólicas mesmo dentro desta faixa, principalmente se acumularem gordura na região interna do abdome. Uma maneira simples de avaliar isto é medir a circunferência da cintura. Mais de 80 cm de cintura em mulheres e 94 cm em homens podem indicar um possível excesso de gordura no interior do abdome.

24,5 a 29,9:
Peso dentro da faixa chamada de pré-obesidade pela Organização Mundial de Saúde. Sabe-se que este peso já pode representar um risco considerável para a saúde. 

30,0 a 34,9:
Obesidade grau I de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Esta faixa vai de 30 a 34,9 kg/m2 de IMC. Há um risco aumentado para várias doenças, incluindo o diabetes, a hipertensão arterial, o infarto do miocárdio e diversos tipos de câncer. 

35,0 a 39,9:
Obesidade grau II de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Esta faixa vai de 35 a 39,9 kg/m2 de IMC.Há também o risco aumentado de desenvolver as doenças supracitadas.

40 ou mais
Obesidade grau III, ou obesidade mórbida de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Esta categoria engloba todos as pessoas com mais de 40 kg/m2 de IMC. Há um risco altíssimo para as várias doenças, supracitadas. A obesidade neste grau é considerada uma doença grave e necessita ser tratada com todos os recursos disponíveis, incluindo os remédios e a cirurgia bariátrica. P

Além do IMC, as medidas de circunferência, cintura e quadril e dobras cutâneas são também utilizadas para avaliação da massa corporal.
A tabela abaixo ilustra o tema acima:

Os riscos que correm os obesos

Problemas médicos que acometem mais frequentemente pessoas obesas do que pessoas com peso considerado normal:
  • Diminuição da tolerância ao calor;
  • Diminuição da tolerância ao exercício físico;
  • Aumento da pressão arterial;
  • Aumento da pressão arterial;
  • Aumento do risco para o infarto do miocárdio;
  • Doenças da vesícula biliar, principalmente a colecistite aguda e o cálculo de vesícula (colelitíase);
  • Diabetes mellitus;
  • Comprometimento da função pulmonar;
  • Osteoartrite;
  • Gota;
  • Aumento do ácido úrico no sangue;
  • Aumento do colesterol e dos triglicerídios no sangue;
  • Menopausa precoce;
  • Câncer mamário e do endométrio uterino;
  • Problemas emocionais (depressão, angústia, stress);
  • Pé chato;
  • Dermatite intertriginosa

Obesidade: facilitadores e dificultadores

Fatores que facilitam o aumento de peso
  • Atividade física diminuída;
  • Metabolismo basal diminuído;
  • Aumento do consumo de comida;
  • Aumento do consumo de sacarose;
  • Menor consumo de amido e de carboidratos complexos encontrados nos cereais integrais, frutas, legumes, hortaliças;
  • Maior consumo de gordura animal (gordura saturada)
  • Menor consumo de fibras vegetais
Fatores que dificultam o aumento de peso
  • Maior ingestão de fibras vegetais;
  • Maior consumo de frutas, legumes, hortaliças;
  • Maior consumo de carboidratos complexos encontrados nos cereais integrais, frutas, legumes e hortaliças;
  • Menor consumo de sacarose;
  • Menor consumo de gordura animal (saturada);
  • Menor consumo de comida;
  • Aumento da atividade física diária;
Importante saber:

A obesidade não prolonga a vida! Pense: quantos idosos em idade avançada e obesos você conhece?
  • Somente 60% dos obesos atingem a idade dos 60 anos;
  • Somente 30% dos obesos atingem a idade de 70 anos;
  • Somente 10%  dos obesos atingem a idade dos 80 anos;

Fisiologia da Obesidade

A célula adiposa do obeso

A gordura corporal é uma massa única formada por tecidos gordurosos (combinação de áciso graxos e glicerol), envolvida por vasos sanguíneos. Sua função é armazenar energia para o organismo e isolamento térmico. 
No corpo humano existem dois tipos de tecido gorduroso: a gordura branca e a marrom. A primeira acumula-se principalmente na cavidade abdominal (45%), tecido subcutâneo (50%), tecido intramuscular (5%). Essas células armazenam  triglicerídios (mistura de ácidos graxos e glicerol) na forma líquida, até 95% do volume delas. O tecido adiposo marrom é menos abundante e localiza-se apenas em certas áreas do corpo, como nas regiões interescapular - região anatômica localizada entre as omoplatas, osso plano na região do ombro que se articula com a clavícula - e cervical posterior (área situada atrás do pescoço).

 Informações Gerais

Durante o primeiro ano de vida do indivíduo há o aumento no tamanho dos adipócitos (célular de gordura) e aumento discreto na quantidade dessas células. Mais tarde, tanto tamanho quanto número dessas células aumentam. Esse aumento ocorre em maior grau nos cinco primeiros anos de vida e no período entre nove e 13 anos de idade.

Em relação aos homens, as mulheres possuem mais gordura e mais número de células adiposas

O aumento de gordura corporal na dase adulta está relacionado mais com o tamanho da célula adiposa do que com seu número. A célula adiposa cresce em tamanho de acordo com o avançar da idade e aumento da massa de gordura do corpo.

Tipo de Obesidade de acordo com as células de gordura

Hipertrófica: as células adiposas se enchem de gordura: aumento no volume, e não na quantidade, de células adiposas.
Hiperplásico: as células gordurosas são mais numerosas: aumento na quantidade de células adiposas.
Misto: forma associdada: hiperplasia e hipertrofia do tecido adiposo.

A obesidade iniciada na fase adulta geralmente é do tipo hipertrófica. Caso iniciada na infância, geralmento é do tipo hiperplásico. No primeiro caso é mais fácil de se tratar a obesidade.

A quantidade de células adiposas não se altera com o emagrecimento: o que ocorre é a redução de seu volume, ou seja, de conteúdo gorduroso no interior das células adiposas.

Importante saber:

Obesidade: uma doença crônica

A obesidade é uma doença crônica causada por múltiplos fatores e caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo. É fator de risco para patologias graves, como doenças cardiovasculares, hipertensão, distúrbios reprodutivos em mulheres, alguns tipos de câncer e problemas respiratórios. Além desses, a obesidade pode ser causa de sofrimento, depressão e isolamento social, fatores estes que prejudicam a qualidade de vida do indivíduo que sofre de obesidade. É hoje um dos mais graves problemas de saúde pública do mundo. Devido ao crescente número de indivíduos acometidos por tal doença, hoje já é considerada uma epidemia. É a doença que mais mata por consequência de problemas cardíacos no mundo.